Placas de Rua da Maré

 

Em 2012 foi lançado a primeira versão do Guia de Ruas da Maré, uma inciativa da ONG Redes da Maré e do Observatório de Favelas, com o apoio das 16 Associações de Moradores locais e do projeto Censo Maré, de onde o guia se originou. Era a primeira vez que todas as ruas, becos e travessas da Maré foram incluídas do mapa oficial da Cidade do Rio de Janeiro.

As histórias do bairro Maré e das 16 comunidades que o formam sempre fizeram parte dos conteúdos dos projetos de arte, cultura, educação e comunicação desenvolvidos pela ONG Redes da Maré. A oficina de azulejaria que realizamos ali desde 2006 é um exemplo singular nesse sentido. A partir da prática de um projeto de educação e arte - com as oficinas de Arte sobre Azulejos - iniciamos um projeto urbano que pretende se espalhar pelo bairro e incluir a população local na sua produção.

Graças às informações do Guia de Ruas foi possível iniciar, então, o desejo antigo de trabalhar a identidade local com os moradores. O projeto Maré de Ruas e Histórias, em parceria com a Azulejaria, realizou um piloto com a produção de algumas placas de ruas, em cerâmica, a partir do conteúdo que culminou em um vídeo com depoimentos dos moradores dessas ruas. 

A exemplo da Nova Holanda, comunidade piloto do projeto, os nomes das ruas da Maré começaram a ser re-definidos em 1985, a partir de reuniões com os moradores de cada uma delas. Surgida na década de 60, a comunidade foi construída pelo poder público como um “conjunto habitacional provisório (CHP)” e, como os parques proletários da década de 1940 terminou por constituir-se em mais uma favela. Suas ruas eram então nomeadas por números e letras.

A Maré possui atualmente 139.000 habitantes, uma população maior do que a de 80% dos municípios do Brasil. A Maré foi definida legalmente como bairro em 1994 e ainda hoje muitos moradores ainda desconhecem esse fato informando residir no bairro vizinho de Bonsucesso, com cerca de 19.000 moradores. Entre os 160 bairros do Município do Rio de Janeiro, a Maré é o 9º mais populoso, com um contingente de moradores tão expressivo quanto o de Copacabana ou da Barra da Tijuca. No entanto, a maior parte das pessoas, de todos os segmentos, não reconhece a importância social, cultural e econômica da Maré, na mesma medida que se reconhece a de Bonsucesso.

As favelas começaram a aparecer no mapa oficial do Município do Rio de Janeiro em 1947 e ainda hoje muitas ali não se encontram. Lançar o Guia de Ruas da Maré foi e é uma ação fundamental para o reconhecimento e a visibilidade de uma população representada negativamente por boa parte da população da cidade. Ampliar as referências cartográficas deste território significa dar mais visibilidade às dezenas de milhares de moradas para as quais o ato de declarar o endereço ainda tem efeito vão ou desfavorável ao morador, no contexto da cidade. Como nomeado em um dos capítulos do Guia, visibilidade e reconhecimento são os primeiros passos para que se exerça o direito à cidade.

As ruas contam histórias. A nomeação dos lugares é uma manifestação típica do homem. Os nomes podem ser sugeridos pelas características físicas locais (como no caso o nome da Maré), ou associado a incidentes, momentos históricos e fatores culturais. Sua função no entanto é de identificação, mais do que de significação, e acaba servindo como referência à realidade espacial do homem.

Partindo originalmente da ideia da criação das placas de rua, o Maré de Ruas e Histórias compreende no entanto um conjunto de ações estratégicas, que têm como objetivo mobilizar e incluir os moradores em seu processo de produção.

A produção das placas em si torna-se um capítulo a parte, pois além de ser o elemento mobilizador, trata-se de um projeto urbano. Como tal, implica em uma proposta específica, a ser discutida e definida conjuntamente com a municipalidade para a continuidade de sua produção. 

Em setembro de 2013, a placa de rua da Maré passou a fazer parte do acervo artístico do Museu de Arte do Rio - MAR.

E em abril de 2014 foi lançado o Guia de Ruas da Maré 2014, versão atualizada com imagens do Maré de Ruas e Histórias na capa.

Em 2015, finalmente foi criado um grupo de trabalho pela Secretaria Municipal de Urbanismo. A equipe passou 7 meses na Maré, tirando o "certidão de nascimento" de aproximadamente 505 ruas, das 815 ruas do bairro.

Em abril de 2016 o projeto das Placas de Rua da Maré foi selecionado para representar o Brasil na mostra internacional de arquitetura da Bienal de Vezeza. No mesmo mês forma publicados no Diário Oficial 5 decretos oficializando 505 ruas do bairro Maré. 

Continuamos!

Saiba mais: 

Maré começa a ganhar placas com o nome das ruas - 21.12.2013

Brasil leva projetos de transformação à Mostra de Arquitetura de Veneza - 28.03.2016

Brasil levará soluções arquitetônicas da sociedade civil à Bienal de Veneza - 30.03.2016

Um Rio de azulejos na Maré - 29.04.2016

Uma nova fachada para dona Severina - 03.05.2016

Essa rua agora é minha - 17.05.2016

Projetos Cariocas de Arquitetura coletiva serão apresentados na Bienal de Veneza - 27.05.2016

Placas de Rua da Maré / Revista Bamboo - maio.2016

 

Placas de Rua da Maré
Maré de Ruas e Histórias - Redes da Maré e Azulejaria

Criação e Coordenação artística: Laura Taves
Coordenação do projeto piloto: Laura Taves e Nurdane Caglar Bourcier

Coordenação Redes da Maré: Eliana Sousa Silva

Início: Dezembro de 2012.